sábado, 31 de março de 2012

Os aterrorizantes clichês

Não é exagero afirmar que os filmes de terror, ao lado das comédias (principalmente românticas) são as vertentes cinematográficas que mais apelam aos clichês. Ainda que falar mal deles e tentar escapar dos mesmos sejam, talvez, os maiores dentre os maiores clichês, eis algumas manias irritantes que os filmes de terror usam que conseguem deixar os espectador com a velha sensação do dejavu (que não é o infame grupo musical de tecnobega, tampouco o ainda mais ignorado grupo de mpb que entoa "jogas as chaves foraaaaaaaaaaaaaaaa....").


1) Calma, é tudo um sonho.
Lá está você, sentado após noventa minutos de sustos (ou pelo menos, tentativas de tanto). A trama foi se tornando cada vez mais complicada, e você acha praticamente impossível que o roteirista resolva as pendengas que deixou em aberto, ou que consiga justificar tantas coisas esrúxulas que foram pululando em sua tela. Lá está a mocinha, duelando contra dois espíritos, uma horda de zumbis e um Chuck Norris armado com uma pluma de ganso (nunca duvide da hablidade desse homem) quando, de repente, quando a morte parecia inevitável, a tela se clareia intensamente e a personagem volta de um coma induzido no hospital. Cabe a você, espectador, a sensação de ter sido feito de trouxa por um roteiro sem pé nem cabeça, uma vez, que, dentro da mente humana, como diria Tim Maia, vale tudo.
Alguns filmes tentaram inovar e mostram, pouco após a sensação de que tudo está bem, que a cara do médico é a mesma cara do espírito que encheu o saco dos protagonistas ao longo da película, ele dá um sorriso sacana, do estilo "o que é teu tá guardado" e os créditos começam a rolar. Gostaram da idéia, surgiu um novo clichê.
"Estou de saco cheio desses sonhos" Sigmund Freud, em correspondência trazida por Mercúrio a Marcello Zanfra


2) Variações do mesmo tema sem sair do tom
O arrependimento é, para o cristianismo e para o ser humano inteligente, um sentimento dos mais nobres. Todos temos do que nos arrepender, mas ninguém tanto quanto Bram Stoker. Drácula é um ótimo livro, a adpatação de Coppola, igualmente, é. Infelizmente, o simpático conde tem de aturar releituras das mais bizarras envolvendo seu nome, e recentemente, seu arquiinimigo o Professor Abraham Van Helsing, que, de um filósofo metafísico e ocultista, virou alguém semelhante ao Wolverine. "Drácula 2000", "Drácula contra-ataca", "Drácula, ninguém segura esse vampiro", "Porra, ninguém sabe matar vampiro nessa terra, não?". Não falta muito para termos a seguinte chamada na seção da tarde. "Um vampiro muito louco, aprontando todas com a galera da Transilvânia, em alto clima de azaração com a noiva de Jonathan Harker".

"Vou empalar o autor da próxima releitura" Conde Drácula, em correspondência trazida por Mercúrio a Marcello Zanfra.


3)Momento "Suspeitei desde o princípio"
Os filmes de suspense prezam pela surpresa do espectador, para tanto, os roteiristas buscam criar tramas rocambolescas e cheia de peripécias, a fim de que o público seja constantemente enganado e tendo acesso ao ouro apenas no final, muitas vezes, após os créditos, apenas. Temos, portanto, uma espécie de novela mexicana assustadora, embora a maioria delas já seja, onde em momentos de menor inspiração, o fantasma que matou quase todos, diz com um tom emocionado: "Eu sou seu pai, Felipe Roberto". Até aí, sem problemas, mas, haverá sempre aquele discípulo de Sherlock Holmes, que deste, só possui a prepotência, disposto a falar: "eu já tava mesmo achando que aquele passarinho cuco que apareceu só nos créditos de abertura era o assassino".

"Bem que você suspeitou que eu tava morto é o cacete" Bruce Willis sobre "O sexto sentido" em correspondência trazida pelo carteiro para Marcello Zanfra


4) Velocidade e lugar errado na hora errada
Qualquer um que tenha passado por uma situação que dê medo, seja ela uma tentativa de assalto , ou estar sozinho em casa com a luz apagada correndo para a cama, sabe que o medo tem uma grande vatagem para o homem: ele triplica a velocidade de corrida da pessoa (desconfio que seja por isso que o sinal de largada nas corridas é o disparo de um revólver). Em um filme de terror, portanto, onde está em jogo vida, ou a alma da personagem, qualquer Barrichelo vira um Robson Caetano, nada desses clichês onde os zumbis, seres mais mortos do que vivos, por definição, conseguem correr mais do que alguém desesperado. Não adianta falar que caiu ou tropeçou, na hora da covardia, não há espaço para ficar no chão, a recuperação é mais do que imediata. Ah, e por favor, se o barulho do fantasma vem da cozinha, fique na sala, e vice e versa, não é tão difícil sobeviver se pensarmos assim.

"Na próxima vez a gente liga pro disk pizza, ok?" Zumbi ao ver a velocidade da refeição em desespero.


5) Todo esforço é em vão.
Se um belo dia você perceber que sua vida se transformou, por motivos que até Deus duvida, em um filme de terror, se acalme e aguarde a morte estoicamente. Não adianta criar esperanças, não tire a Samara do poço, não faça aquele experimento místico que você encontrou no livro da Palmirinha. Nada vai dar certo. Um filme de terror tem em média noventa minutos, os cinco finais são dedicados a mostrar que todo o esforço fracassou e a criatura sobenatural venceu. Minha dica: aproveite pra tirar uma com a cara do fantasma, xingue bastante, comente que o time dele perdeu no domingo, em suma, deixe-o bastante irritado para que ele te mate rapidinho. Outra alternativa é se suicidar logo e poupar o tempo de aborrecimento do espectador.
"Belos conselhos" Sêneca sobre essa postagem em mensagem trazida por Mercúrio para Marcello Zanfra


"Até que enfim acabou essa porcaria" Leitor sobre esse texto.